Carta de Despedida ao meu Amado Boris - Fátima Verdeaux

Ao meu amado Boris

 Você chegou aqui em casa há 12 anos, era um filhote todo desajeitado, com longas orelhas a arrastar pelo chão, e aquele olhar que só um Cocker tem. Apaixonei-me perdidamente por você.

 Suas artes só nos faziam rir, mas você aprendia tudo muito rápido, na mesma rapidez que crescia. Nessa época você depositou toda sua confiança em mim, e você me ensinou a acreditar.

 Lembro de você como um filhote com um monte de brinquedos, latia, corria e me chamava para brincar com você, comeu muitas das minhas sandálias havaianas e até aquela sandália super cara que eu comprei. Lembro-me desses dias, pois você me ensinou a brincar.

 Comecei a achar que você era mudo (risos), pois não latia nunca. Você não era mudo, só era muito discreto.

 Ainda está claro na minha memória o dia que seu personal dog trainer apareceu aqui, você ficou todo desconfiado, mas depois quando o interfone tocava você corria para o elevador e descia sozinho para ter suas aulas de boas maneiras. Tornou-se um atleta de agility, frisbee e um verdadeiro lorde. Você me ensinou a aprender e a ser persistente.

 Todos na quadra te admiravam, as crianças adoravam brincar com você. Você foi convidado a inúmeros aniversários infantis. Quando chegávamos você era o único cãozinho, e com muita delicadeza você aceitava todas as brincadeiras infantis. Você me ensinou a ser tolerante.

 Um verdadeiro galã, foi pai inúmeras vezes, e seus filhotinhos foram meus netinhos. Com você aprendi a ter uma família.

 Então uma hora tivemos que nos mudar de país, e você sem relutar me acompanhou, aceitou ir naquela caixinha, ficou quase 24 horas trancadinho, e quando desceu demonstrou uma alegria imensa em me reencontrar. Você me ensinou a ter paciência.

 Você conheceu a neve, aliás como você adorou comer neve, e já como um grande jogador de frisbee descemos várias vezes os Alpes juntos, com você correndo atrás do seu brinquedo. Você se tornou a sensação de Megeve, e até a fama (lá na França) que os Cocker caramelos tem de serem agressivos você conseguiu desfazer com sua gentileza, e simpatia. Com você aprendi a vencer os preconceitos.

 Eu me lembro de você hoje, cansado e desgastado pela infecção, mas mesmo assim lutando.  Eu te peguei, te abracei. Você me olhava com aquele olhar terno e carinhoso. E quando a tua alma falou com a minha, você deixou este mundo. Então, eu murmurei "Adeus" e fiz a prece de São Francisco de Assis, pedindo que seu caminho até ele fosse feliz. E mesmo neste momento que passou, quando meus olhos em lágrimas, você me ensinou uma última lição. Eu sempre me lembrarei desse dia. VOCÊ ME ENSINOU A AMAR.

 Seu último aconchego está entre duas enormes árvores, eu parti chorando, mas certa de que você irá florescer no coração de todos que te amaram...

Por: Fátima Verdeaux

*Fatos Reais*